Afrofuturismo e Tecnocorpos
uma leitura semiótico-discursiva de imagens geradas por IA na formação crítica.
Palavras-chave:
Afrofuturismo, Inteligência Artificial Generativa, Semiótica Discursiva, Letramento Crítico, TecnocorposResumo
Este artigo analisa os efeitos de sentido produzidos por uma imagem afrofuturista gerada por Inteligência Artificial (IA) no contexto de uma atividade formativa com estudantes de graduação das áreas de Letras e Pedagogia. A proposta insere-se no campo da cultura digital crítica e adota como referencial a Semiótica Discursiva, com foco nos níveis de significação fundamental, narrativo e discursivo, além de incorporar elementos da semiótica visual contemporânea, especialmente no que se refere à iconicidade, à plasticidade e à performatividade do corpo nas imagens digitais. A atividade pedagógica consistiu na leitura coletiva do capítulo “Obambo”, do romance O Último Ancestral, de Alê Santos, seguida da análise colaborativa de uma imagem gerada por IA inspirada na narrativa. A imagem, que representa um casal negro em trajes híbridos – simultaneamente ancestrais e futuristas –, é tomada como tecnocorpo, ou seja, como uma instância visual que articula dimensões do desejo, da memória e da identidade negra no presente e no porvir. A análise revelou que a IA, embora limitada na apreensão da diversidade cultural real, pode funcionar como dispositivo de ativação crítica de imaginários afrodiaspóricos, desde que mediada por práticas ético-discursivas e pedagogicamente orientadas. A leitura discursiva da imagem permitiu tensionar os modos como valores como ancestralidade, espiritualidade e ciência são figurativizados por meio de oposições estruturantes e estratégias enunciativas específicas. Ao propor o Afrofuturismo como horizonte metodológico e epistêmico, o estudo evidencia seu potencial para o desenvolvimento de letramentos racial, digital e semiótico em contextos formativos. Conclui-se que o uso de imagens geradas por IA na educação pode fomentar debates sobre autoria, ética e representação, desde que integradas a metodologias críticas que valorizem saberes plurais e promovam reexistências visuais e discursivas.
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